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'Precisamos fazer malabarismos para conseguir verba', conta coordenador do curso de Engenharia Espacial da UFSM

Rafael Favero

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: arquivo pessoal
Em visita ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para tratar da participação do ministro Marcos Pontes no Segundo Congresso Aeroespacial Brasileiro, realizado em Santa Maria

Nascido em Espumoso, André Luís da Silva, 37 anos, é referência no conhecimento sobre aeronaves. Filho de João Luiz da Silva e Terezinha da Silva, ele é coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O professor é também um dos principais responsáveis pela estruturação de salas, equipamentos e projetos do curso, que começou a funcionar em 2015 na instituição. Nesta entrevista, André Luís comenta a respeito da formação na Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), da atuação na UFSM e das potencialidades da Região Central para o desenvolvimento do turismo aeroespacial.

Diário - Quando o senhor decidiu ser engenheiro?

André Luís da Silva - Quando fiz o Programa Experimental de Ingresso ao Ensino Superior (Peies), tentei ingressar no curso de Jornalismo. Eu queria ser narrador de futebol. Como fui mal na redação, vi que esse curso não era para mim. Minha segunda opção era a Engenharia. Por ter medo da matemática, procurei reforçar meu conhecimento nessa disciplina antes de prestar vestibular.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: arquivo pessoal
Com Aline, na lua de mel em Porto Seguro, na Bahia

Diário - Durante a graduação, quais projetos e professores lhe marcaram mais?

André - Destaco o professor Orimar Antônio Batistel, de Física. Em um primeiro momento, os alunos pensam em desistir quando enfrentam as primeiras dificuldades no curso, e o professor Orimar sempre foi de pegar pesado. Mesmo assim, me interessei por mecânica e peguei gosto por assuntos como força e movimento, o que me encaminhou para a Aeronáutica. Mesmo na Engenharia Elétrica, aprendi bastante sobre mecânica. No segundo semestre, tinha um professor de álgebra linear muito bom, o Getúlio Rocha Reptamos. Além desses, o Alexandre Campos, tutor do Programa de Educação Tutorial (PET) da Engenharia Elétrica também foi importante. Fui para a Alemanha por meio de um projeto que ele liderou.

Diário - E como ingressou no mercado de trabalho?

André - Venho de uma família humilde. Meu pai era borracheiro e minha mãe faxineira. Minha motivação para estudar estava na necessidade de buscar recursos financeiros. Desde que ingressei no curso, queria trabalhar para ajudar minha família. À época, eu nem sabia que existia pós-graduação. Formado, passei pelo dilema de já entrar no mercado de trabalho ou continuar estudando.

Diário - E, nesse contexto, o que decidiu fazer?

André Luís da Silva - A solução perfeita para a minha dúvida surgiu quando a Embraer abriu um processo seletivo. Nessa empresa, eu poderia trabalhar e fazer mestrado profissionalizante no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São Paulo. Na Embraer, eu trabalhava no Departamento de Desenvolvimento Tecnológico. Lá, a equipe pegava as pesquisas universitárias e transformava em protótipos para serem utilizados em projetos. Fiz o doutorado também no ITA.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: arquivo pessoal
No registro, a Agência Espacial Brasileira, onde o professor esteve como representante do curso de Engenharia Aeroespacial da UFSM

Diário - Qual é o impacto de trabalhar com a segurança de aeronaves?

André - Na primeira semana, o pessoal da Embraer nos deu um tratamento de choque. Falaram que havíamos passado em uma seleção rigorosa e que não éramos obrigados a estar lá. A segunda palestra foi sobre segurança de voo. Naquele dia, não dormi. Imaginar que somos responsáveis por uma máquina que levanta voo com 100, 150 pessoas assusta. Mas somos muitos engenheiros envolvidos com isso, todos cientes de suas responsabilidades e bem treinados pela Embraer.

Diário - A atuação na Engenharia Aeroespacial veio nessa sequência?

André - Na época em que entrei na Embraer, havia a expectativa de o Brasil iniciar um novo programa de caças, de investir em sistemas de satélites, da Força Aérea Brasileira (FAB) fazer investimentos maiores e de uma reestruturação da Agência Espacial Brasileira. Aproveitando esse crescimento e o programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), as universidades deram início ao curso de Engenharia Aeroespacial. O primeiro deles foi na Universidade Federal do ABC (UFABC).

Diário - O senhor participou do início do curso em Santa Maria?

André - Sim. Como eu tinha estudado na UFSM, pediram que eu auxiliasse na criação. Consegui a transferência da UFABC para a UFSM. Porém, como era época da troca de reitores, demorei um pouco para mudar de instituição. Ao chegar na UFSM, lecionei em Cachoeira do Sul. Depois, com uma oportunidade dada pelo Luciano Schuch, na época diretor do Centro de Tecnologia (CT), fui inserido no curso de Engenharia Aeroespacial.

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: arquivo pessoal
Quando sobra tempo, André se dedica a obras em casa

Diário - A UFSM tem encontrado dificuldade para montar a estrutura do curso?

André - Temos montado tudo com poucos recursos e precisamos fazer malabarismos para conseguir verba. Para a estrutura física, foram prometidos fundos pelo Ministério da Educação que nunca vieram. Utilizamos salas do CT, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e, mesmo assim, falta espaço.

Diário - Com quais diferenciais os alunos de Engenharia Aeroespacial da UFSM podem contar?

André - Dou aulas dentro da Ala-4, uma parceria da UFSM com a Força Aérea. Além disso, tivemos, em Santa Maria, o Congresso Aeroespacial Brasileiro, outra grande experiência.

Diário - A Região Central tem muito a investir do turismo aeroespacial?

André - Sim. Temos o Observatório Cosmos, em Itaara, o Inpe, o Planetário, ou seja, contamos com um circuito aeroespacial em potencial. Pretendemos conseguir doações da Agência Espacial para que Santa Maria, tenha protótipos de satélites reais. No Planetário, se tem oportunidade de observar projeções sobre a história do universo. Além disso, estamos para receber dois aviões da FAB para estudos, embora ainda não tenhamos hangar para colocá-los. Esse hangar só será construído se a cidade apoiar. Sozinha, a UFSM não terá dinheiro para isso.

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